domingo, 25 de julho de 2010

Melindres...

Se existe algo nessa vida que verdadeiramente me aborrece, é excesso de melindre. E, confesso que, em alguns casos, o melindrismo é tanto que passa de mero aborrecimento e me leva à exasperação. O curioso é como as pessoas podem ser excessivamente sensíveis em relação a si próprias e verdadeiros paquidermes em relação aos outros! Isso pra mim é coisa de gente BURRA! Burra não no sentido comum que as pessoas dão ao termo, de incapacidade intelecto-racional, mas emocionalmente burra. Aliás, muitas vezes essas pessoas são inteligentíssimas, porque as construções (pseudo) lógicas que apresentam como jusitificativa às suas reações são, muitas vezes, aparentemente imbatíveis. “Aparentemente”, porque por óbvio, com um pouco mais de compreensão dos mecanismos internos de “funcionamento” do ser humano, e sentimentos como medo, angústia, negação, rejeição, etc etc vem à tona e pode-se perceber que foram base dessas contruções do pensamento, que acabam por desmoranar, vez que aspectos puramente racionais nunca são suficientes para justificar condutas. Muitas das vezes, não passam de meros sofismas (amo essa palavra! Para mim o homem nada mais é que um grande sofista!).
Eu tenho inúmeros defeitos, mas “rezo todos os dias” para que o excesso de suscetibilidade não se apodere de mim. É algo que verdadeiramente abomino, e atribuo a esse sentimento tão comum ao ser humano muito do nefasto que existe no mundo. Muitas vezes me decepcionei com pessoas que julgo brilhantes, por se permitirem crer ofendidas em sua inteligência, honra, moral, dignidade, autoconceito, crenças, religião, cultura ou o que seja, por pessoas ou situações cuja definição “patéticas” não poderia ser melhor. Refletindo sobre o fato, cheguei à conclusão que o “melindre” por parte de pessoas que considero (considerava) geniais e/ou admiráveis tem raiz diferente daquele sentido por pessoas comuns. Enquanto o melindre das primeiras tem origem na vaidade, nas outras tem origem na ignorância. No entanto, o adubo é o mesmo, limitações emocionais.
Pessoas intelectualmente acima da média tem consciência dessa sua condição, e à medida em que se embriagam de seu sentimento de superioridade e se acham mais especiais que os demais, não permitem a mínima contradição ao que pensam ou sentem, porque se julgam possuidoras da verdade. Vão além, enxergam contradições até onde elas não existem. Tudo se torna pessoal. As atitudes alheias mais efêmeras, mais inocentes, as impensadas, as tolas, são sempre objeto de críticas ferinas pelo melindrado, muitas vezes desproporcionais, que no mais somente demonstram a insegurança enfrentada por essas pessoas que falam e agem com tanta suposta lucidez, mas que no fundo se sentem tão indefesas quanto qualquer mortal.
Já o melindre dos medíocres tem razão mais honesta, mais justificável, a ignorância. A ideia é mais ou menos a seguinte: “Na dúvida, estou sendo atacado”. Ah, sim, e sempre se dá extremo valor ao que os outros indicam: “Cara, você está sendo humilhado, agredido, ofendido...” e, mesmo sem a exata noção do que acontece, se retribui a “humilhação, agressão, ofensa...” que na maioria das vezes nem sequer existe.
Por que as pessoas são tão cheias de si, mesmo em prejuízo próprio? Porque se permitem expor ao ridículo, porque sim, o melindrismo é ridículo, quase sempre por tão pouco?
Temos inúmeros exemplos sobre os danos que o comportamento extremamente “sensível” pode causar, dos mais simplórios aos catastróficos. É o “valentão” que espanca o franzino; É o “sr. pedante” que se faz intencionalmente cego às limitações daquele que é menos favorecido de conhecimentos e experiências e contra-ataca com uma desproporcionalidade que choca os de bom senso; É o chefe de Estado, desequilibrado e ditador, que vê inimigos em toda a parte; É o excesso de nacionalismo que leva à Xenofobia; É o excesso de desprezo por aquilo que é importante para alguns (uma contradição em si ao suposto excesso de sensibilidade que o melindroso possui, obviamente que tal sensibilidade é via de mão única). Uma das causas do Nazismo certamente foi o melindre do povo alemão; as guerras no Oriente Médio também tem suas razões no melindrismo dos povos; mesmo a questão atual da Venezuela e Colômbia (sem querer entrar em um discurso politíco-ideológico) tem muito de melindrosa; desavenças entre vizinhos, entre familiares, entre casais.
Auto-centrados, os seres humanos muitas vezes se julgam “umbigo do mundo”. Tudo lhes diz respeito, tudo é drama, tudo lhes ofende. Comentários tolos e preconceituosos, de pouca ou nenhuma importância, como o recentemente feito pelo ator Sylvester Stallone em relação ao Brasil, ganham ares de “ataque frio, intencional e pungente” como se a honra do povo brasileiro dependesse da opinião de um artista decadente e irrelevante.
Não há nada de superior em sentir-se ofendido, muito pelo contrário. A superioridade está em se por acima das ofensas. Em compreender o ignorante, o insensato, em rir-se da estupidez e da ingenuidade de suas agressões; em ensinar através do exemplo; em constranger aquele que agride pela benevolência no trato (não há melhor forma de expor a brutalidade de outrem, que retribuir agressão com tolerância e, por que não, afeto). Mas, ainda estamos longe disso, de retribuir dor com amor. As inseguranças não nos permitem. Os atavismos ainda presentes na sociedade humana que dão excessivo valor a questões como honra, a justificar disputas, mortes, guerras não nos deixam ir além de nós mesmos. Tudo gira em torno do eu, EU mesmo, MINHA família, MEUS amigos, MINHA cidade, MEU estado, MEU país, MEU lado do mundo, MINHA ideologia... E ai de quem ouse debochar, diminuir, criticar, questionar, duvidar... não pode! Como ousam? Falta às pessoas a capacidade de rirem de si próprias, de relaxarem, de não se darem tanto valor, de não se acharem melhores... quem sabe assim nos tornemos efetivamente amados, por nós mesmos... porque não, melindrismo não é indicativo de amor próprio.